De acordo com o advogado Onir de Araújo, Nerlei ficou cerca de 10 minutos desacordado, foi socorrido por Catãi e levado até um grupo de índios caingangues que está acampado na Praça da Alfândega. Ele ainda critica que não houve esforço dos seguranças da universidade para chamar o Samu ou a polícia, mesmo que alguns estudantes, que testemunharam da sacada as agressões, terem pedido ajuda.
De volta às aulas nesta quarta-feira, depois de dois dias se recuperando das lesões, Fidelis não atendeu às ligações de ZH.
— Num primeiro momento, ele ficou reticente de fazer ocorrência por questões culturais e desconfiança nas instituições — esclarece Araújo. — Depois de conversar conosco, ele se deu conta de que conhece muitos cotistas e que a sua denúncia poderia provocar mudanças.
Após o registro da ocorrência na PF nesta terça-feira, Nerlei prestou depoimento a um delegado plantonista, inclusive apontou estudantes suspeitos de terem cometido as agressões com ajuda da coordenação da Casa do Estudante e fez exame de corpo delito. O processo passa por trâmites internos da polícia e ficará a cargo da delegacia especializada de Defesa Institucional, que trata de casos envolvendo indígenas.
A UFRGS informou que está ciente do assunto e vai apurar o que aconteceu. A partir da confirmação, diz que tomará as “medidas disciplinares cabíveis conforme o código disciplinar da universidade”.
Pela página no Facebook, o DCE da UFRGS diz que vai exigir que a universidade “não se omita” em termos de conscientização da comunidade acadêmica e de punição aos supostos estudantes envolvidos. Leia a nota:
NOTA DO DCE SOBRE A AGRESSÃO SOFRIDA POR UM ESTUDANTE KAYGANG NA NOITE DESTA SEGUNDA-FEIRAO DCE da UFRGS gostaria de…
Publicado por Dce Ufrgs em Terça, 22 de março de 2016
Para o advogado Onir de Araújo, que é líder do movimento quilombola no Estado, a agressão de Nerlei é o caso mais extremo da violência que vem atingindo indígenas e negros que frequentam a universidade. Segundo ele, o número desses segmentos cresceu na UFRGS desde que o sistema de cotas foi implementado, em 2008.
Nerlei é, inclusive, membro da primeira turma a ingressar na federal gaúcha como cotista indígena. Passou para Agronomia na época e, no ano passado, pediu transferência para Veterinária. Ele chegou a morar na Casa do Estudante, mas, atualmente, vive em uma aldeia indígena no bairro Lami, no extremo sul da Capital.
— No último ano, especialmente, há um clima de intolerância na sociedade em função da situação política do país. Nosso temor é de que mais violências venham a acontecer. E os povos diferentes são sempre os que mais sofrem — avalia Roberto Liedgott, coordenador do Conselho Indigenista Missionário (Cimi-Sul).