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Polícia Federal vai abrir inquérito para apurar caso ocorrido no último final de semana no centro de Porto Alegre

Alvo das agressões, Nerlei Fidelis, 31 anos, entrou na primeira turma de cotistas da UFRGS em 2008. Foto: Arquivo pessoal / Arquivo pessoal
Alvo das agressões, Nerlei Fidelis, 31 anos, entrou na primeira turma de cotistas da UFRGS em 2008.
Foto: Arquivo pessoal / Arquivo pessoal

A Polícia Federal vai abrir um inquérito para investigar a agressão ao aluno de Medicina Veterinária da UFRGS Nerlei Fidelis em frente à Casa do Estudante do campus central da universidade. Indígena e cotista de 31 anos, Fidelis registrou ocorrência na sede da PF nesta terça-feira, mas o caso ocorreu na madrugada do último sábado, dia 19.

Imagens de câmeras de segurança mostram a briga. À 1h39min, Nerlei e um sobrinho, identificado apenas pelo nome indígena de Catãi, passam por um grupo de rapazes que estão em frente à Casa do Estudante e sobem a escadaria do número 41 da Avenida João Pessoa. O vídeo não tem som, mas neste momento, segundo Nerlei relatou à polícia, foi provocado pelo grupo.

— O que estes indígenas estão fazendo aí? — teriam dito em meio a outras provocações.

Os indígenas então vão em direção ao grupo e começam a conversar. Cinco minutos se passam até que as agressões começam. O estudante é derrubado no chão, enquanto o sobrinho tenta se desvencilhar do grupo. Veja o vídeo:

De acordo com o advogado Onir de Araújo, Nerlei ficou cerca de 10 minutos desacordado, foi socorrido por Catãi e levado até um grupo de índios caingangues que está acampado na Praça da Alfândega. Ele ainda critica que não houve esforço dos seguranças da universidade para chamar o Samu ou a polícia, mesmo que alguns estudantes, que testemunharam da sacada as agressões, terem pedido ajuda.

De volta às aulas nesta quarta-feira, depois de dois dias se recuperando das lesões, Fidelis não atendeu às ligações de ZH.

— Num primeiro momento, ele ficou reticente de fazer ocorrência por questões culturais e desconfiança nas instituições — esclarece Araújo. — Depois de conversar conosco, ele se deu conta de que conhece muitos cotistas e que a sua denúncia poderia provocar mudanças.

Após o registro da ocorrência na PF nesta terça-feira, Nerlei prestou depoimento a um delegado plantonista, inclusive apontou estudantes suspeitos de terem cometido as agressões com ajuda da coordenação da Casa do Estudante e fez exame de corpo delito. O processo passa por trâmites internos da polícia e ficará a cargo da delegacia especializada de Defesa Institucional, que trata de casos envolvendo indígenas.

A UFRGS informou que está ciente do assunto e vai apurar o que aconteceu. A partir da confirmação, diz que tomará as “medidas disciplinares cabíveis conforme o código disciplinar da universidade”.

Pela página no Facebook, o DCE da UFRGS diz que vai exigir que a universidade “não se omita” em termos de conscientização da comunidade acadêmica e de punição aos supostos estudantes envolvidos. Leia a nota:

NOTA DO DCE SOBRE A AGRESSÃO SOFRIDA POR UM ESTUDANTE KAYGANG NA NOITE DESTA SEGUNDA-FEIRAO DCE da UFRGS gostaria de…

Publicado por Dce Ufrgs em Terça, 22 de março de 2016

Para o advogado Onir de Araújo, que é líder do movimento quilombola no Estado, a agressão de Nerlei é o caso mais extremo da violência que vem atingindo indígenas e negros que frequentam a universidade. Segundo ele, o número desses segmentos cresceu na UFRGS desde que o sistema de cotas foi implementado, em 2008.

Nerlei é, inclusive, membro da primeira turma a ingressar na federal gaúcha como cotista indígena. Passou para Agronomia na época e, no ano passado, pediu transferência para Veterinária. Ele chegou a morar na Casa do Estudante, mas, atualmente, vive em uma aldeia indígena no bairro Lami, no extremo sul da Capital.

— No último ano, especialmente, há um clima de intolerância na sociedade em função da situação política do país. Nosso temor é de que mais violências venham a acontecer. E os povos diferentes são sempre os que mais sofrem — avalia Roberto Liedgott, coordenador do Conselho Indigenista Missionário (Cimi-Sul).

Fonte: ZH

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